It Serenata

Serenata para Elina
Itabajara Catta Preta

“Decraração”

Õve, caboca fremosa
qui tem inspinho no oiá
qui tem as face di rosa
e tem amêxa na boca;
incuita essa coisa lôca
qui eu tô quereno falá:

 

Tô inté atrapaiado
prá podê principiá…
Num devera tê falado
na tar de “decraração”
sem anti tá perparado…
Será isso a cumoção?

 

Hoje, inda a pôcos instante,
eu cuntigo passiano,
fiquemos tempo bastante
aparados, sem falá,
pr`o céu in riba inspiano
uma cena naturá:

 

A lua, c´uma instrelinha
no firmamento avuano
paricia tão juntinha
qui si diria qui instava
amba as dua se bejano…
Tú num sabe o qui eu pensava…

 

Veno os dois astro no inscuro,
cá pra nós dois inspiano,
lembrava da inluminura
qui só inzéste pra mim,
di ôtros dois astro cigano
qui véve juntinho ansim.

 

I qui são os teus zóinho
feito de inscuro i di fogo
qui amartrata cum´inspinho
di brejaúva ô di rosa
mais qui adispois dêxa logo
uma assanção gostosa!!!

 

Mais… vortano ao qui eu dizia,
à tar di decraração,
vô falá o qui eu quiria…
Inhanti, aporém de falá,
vira as duas tentação
dos teus zoinho pra lá.

 

Agora, inscuita no orvido
pra ninguém mais iscuitá,
sinão o vento atrivido
e faladô cumu o que
inspaia o qui eu vô falá:
– EU GOSTO MUNTO DI OCÊ!

(Muriaé, agosto-1941)

          Vânia,

Fui visitar o teu palácio de ouro, levantado nos píncaros da glória. Muito custou a escalada, para meu píncaro rocin. Chegado à margem do cristalino fosso, não pôde minha rude chave de ferro abrir o fecho que soltasse as correntes da ponte levadiça. Teu coração me abriu, de dentro. E me esguerei por entre as amplas salas, luminosas e sonantes, nas quais circulam os mais nobres fidalgos da Poesia. Senti-me Sancho Pança entre os Pares de França e não consegui lobrigar um só recanto mais escuro, onde acostar minha bandurra.

Se queres, de fato, dar-me abrigo, eis me apresento na simplicidade que dispensa humildade:

Sou mineiro – Divino, 16.7.1923. Criado por mãe sofrida, formado por pai suado. Pouca escola, alguma leitura (desorientada – li quanto vi à frente, desde 4/5 anos de idade). Profissionalmente escravizado ao dinheiro (38 anos de bancário), vinguei-me em me fazendo Poeta. Na adolescência, achei o que todos procuram, infrutiferamente, a vida inteira: – A FELICIDADE. Casei-me com ela e hoje tenho uma das maiores fortunas do mundo: – contando filhos, netos e bisnetos, genros e noras, EU mais ELINA somamos 47. PUBLIQUEI: Poesias: “Flor da Idade”, em 1941; “Luminárias” (1950; “Livro de Elina” (1980); “Café de Coque”  (1980); “Rio Muriaé” (1984); “Os Mistérios do Lago”, (1986) e “Vai da Vida – II Vol.”  (1997). Prosa: “Pedro Saturnino – O Poeta e a Obra” (1988); “Ritmo e Rima na Poesia Moderna” – coautoria de Clairê S.Pires- (1989).

Pretendo publicar, até 2005, uma seleção de meus primeiros 50 anos de trabalhos literários: “Vai da Vida”, em 10 volumes, que incluirá os inéditos  “A Guerra Impossível”, romance; “O Fantasminha Vermelho”, teatrinho escolar ; “A Redenção do Mundo”, teatro bíblico, de rua; “Contados e Recontados”, contos, narrativas e crônicas; “Crônica Familiar”, genealogia: e “Meditações de Ínfimo, discípulo de Paulo”, apostolado cristão.

Vânia: Pela via postal, estou te mandando o “Pedro Saturnino” e o “Ritmo e Rima”. Livro de Elina, Café de Coque, Rio Muriaé e Os Mistérios do Lago estão todos no “Vai da Vida – II Volume”, que já te mandei.

Creia na sincera gratidão deste velho fazedor de versos inda mais velhos que ele mesmo. Meu abraço. Itabajara Catta Preta